Ministro Decano do STF mostra toda sua indignação com vídeo de Bolsonaro
Celso de Mello reage a Bolsonaro: “Atrevimento sem limites”
O decano (ministro há mais tempo na Corte) do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, disse que o vídeo postado na tarde desta segunda-feira (28/10/2019) no Twitter do presidente Jair Bolsonaro (PSL), “se verdadeiro”, mostra que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar”.
Em nota duríssima enviada à Folha de São Paulo, ele também afirma que o chefe do Executivo Nacional “teme um Poder Judiciário independente”.
“É imperioso que o Senhor Presidente da República – que não é um ‘monarca presidencial’, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados – saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil”, escreveu o ministro.
Duas horas depois de publicado, o vídeo foi apagado, mas já era tarde. O vídeo tinha se espalhado em todas as redes sociais do País e principalmente no Exterior, onde todos os dias uma pregação absurda de Bolsonaro envergonha os brasileiros.
Mesmo viajando, Bolsonaro não deixou de faltar com a urbanidade. Disse que não iria cumprimentar Alberto Fernandez, o presidente eleito da Argentina, o terceiro maior parceiro comercial do País, depois de China e Estados Unidos. E lamentou o processo eleitoral na Bolívia, país que fornece grande parte do gás natural que o Brasil consome.
Veja a íntegra da nota assinada por Celso de Mello:
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor presidente da República em sua conta pessoal no “Twitter”, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma “hiena” culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.
Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de “gravitas” e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.
É imperioso que o Senhor Presidente da República —que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados— saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.