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Na Barra, um movimento de grilagem de terras cerca brejeiros e quilombolas.

26/04/2021

A situação no oeste baiano piorou, menos de um mês após “De Olho nos Ruralistas” noticiar tentativas de grilagem em territórios tradicionais na região. Denúncias de quilombolas e ribeirinhos do Vale do São Francisco não impediram novo avanço de invasores em Barra, a cerca de 700 km da capital, Salvador. Desde a segunda quinzena de março, mais frentes de ataque surgiram contra as comunidades de Curralinho, Igarité e Santo Expedito, muito próximas do Velho Chico.

Há relatos de invasões violentas e construção de barricadas e valas para impedir a movimentação da população. Violência respaldada por fraudes em escrituras de terras reclamadas pelos quilombolas.

A comunidade de Curralinho, que aguarda sua titulação pelo governo federal, denuncia uma tentativa de grilagem no cartório municipal de Barra. A área em disputa integra um projeto de agricultura irrigada do governo baiano para a região.

“O pessoal quer emplacar um projeto parecido com o que ocorre em Juazeiro (BA), trazendo um monte de empresários, quando temos visto mais e mais conflitos por aqui”, diz Cassiano* (nome fictício), um dos líderes do quilombo de Curralinho. Seu nome está sendo preservado pela reportagem por causa da atuação de pistoleiros na região.

Fazendeiros constroem valas e barricadas, em pressão contra as populações que vivem há anos no local. Segundo os moradores, os vizinhos proprietários se revezam desde 2019 nas ameaças.

Desde aquele ano o governo estadual trabalha para emplacar o cultivo irrigado de cana-de-açúcar e a instalação de usinas de etanol no Médio São Francisco, onde fica o município de Barra, além de incentivar a exploração de gado e soja.

O vice-governador da Bahia, João Leão (Progressistas), conduz a empreitada, que envolve um projeto para grãos na fazenda Barracatu, suspeita da grilagem em Curralinho.

“Notamos uma total omissão do governo, seja no âmbito estadual, seja no federal, no que se refere aos direitos e interesses das comunidades tradicionais no Vale do São Francisco”, afirma um líder da Comissão Pastoral da Terra (T) na região, que também pede para não ter o nome divulgado.

Ele acompanha a movimentação das empresas na região e diz que criação de usinas de etanol e de cana-de-açúcar na região tem relação direta com os conflitos em Barra e adjacências.

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