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Golpe militar de 1964 foi em 31 de março ou em 1º de abril?

30/03/2024

Por Renata Souza  da CNN

Ação de militares há seis décadas levou a 21 anos de ditadura militar no Brasil. Os Estados Unidos apoiaram o golpe, com o estacionamento Frota ao largo do Rio de Janeiro: fuzileiros navais, porta-aviões e até gasolina para os antiquados tanques do Exército. O componente naval consistia no porta-aviões USS Forrestal, um porta-helicópteros e seis destróieres da Segunda Frota, além de quatro petroleiros. O porta-aviões partiu da Virgínia, enquanto os petroleiros deveriam carregar no Caribe.

Tanque do exército pára próximo à casa do presidente deposto, João Goulart, no Rio de JaneiroTanque do exército pára próximo à casa do presidente deposto, João Goulart, no Rio de Janeiro31/03/1964 – ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Os generais Castelo Branco (2º à esq.) e Costa e Silva (binóculo) observam as tropas saídas de Minas Gerais e São Paulo que avançam sobre a capital federal / 31/03/1964 – DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

O início da ditadura militar completa 60 anos, mas a data exata em que o golpe de Estado aconteceu causa dúvida até hoje. Afinal, o dia correto seria 31 de março ou 1º de abril?

“O golpe começou no dia 31 e foi concluído, de fato, no dia 1º”, disse a historiadora Joana Salém, professora visitante da Universidade Federal do ABC (UFABC), que considera essa uma “falsa polêmica”.

A professora de História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense (UFF) Janaína Cordeiro diz que “fazer um movimento civil-militar que conquista sua vitória no Dia da Mentira [1º de abril], não é muito auspicioso”. “Então, os militares falam em 31 de março.”

O dia 1º de abril é utilizado como uma estratégia de luta democrática, no sentido de falar como ‘Dia da Mentira’ o dia em que os militares criaram a sua grande mentira de salvacionismo do país.

No meio militar, o 31 de março foi celebrado por muitos anos como o início do período ditatorial — o Exército, em obras que constam em sua biblioteca, chama o golpe de “Movimento Revolucionário“.

Logo que assumiu o mandato, em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) determinou que o Ministério da Defesa comemorasse a ocasião. Já no governo atual, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as Forças Armadas deixaram novamente de celebrar a data.

No ano ado, porém, os clubes Naval, Militar e Aeronáutico celebraram a ocasião no dia 31 de março, e afirmaram que não “poderiam deixar de estar alinhados com as Forças Armadas, às quais se vinculam compromissos e ideais para que o 31 de março de 1964 permaneça vivo na história, somente onde seu legado de pacificação e desenvolvimento do Brasil possa ser compreendido”.

Professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), João Roberto Martins Filho disse que houve uma antecipação do golpe.

Antes do previsto, mas primeiras horas de 31 de março, o general Olímpio Mourão Filho, comandante de uma divisão do Exército em Juiz de Fora (MG), “desceu com tropas de Belo Horizonte até o Vale do Paraíba”. Mais tarde, o general Amauri Kruel, comandante do 2º Exército, em São Paulo, aderiu à ação e ordenou que suas tropas se dirigissem ao Rio de Janeiro.

Esse movimento aconteceu em um contexto em que João Goulart, o então presidente civil, sofria críticas por propostas como nacionalização de refinarias de petróleo e desapropriação de terras.

“Essa conspiração tinha um grupo dirigente que era muito cauteloso e que era comandado pelo futuro presidente Castello Branco [chefe de Estado-Maior do Exército]. Esse pessoal estava já disposto a dar o golpe”, diz Martins Filho.

Reações ao movimento

Ao saber do deslocamento dos militares e da movimentação por sua renúncia, Goulart voou para Brasília em 1º de abril. Sem apoio na capital federal, o presidente civil partiu para Porto Alegre. O movimento seria usado pela oposição como justificativa para que a Presidência da República fosse declarada vaga.

Em sessão extraordinária — que varou a madrugada do dia 1º para o dia 2 de abril —, o presidente do Congresso Nacional, Auro Moura Andrade, anunciou a vacância.

Sessão do Congresso que depôs João Goulart / Reprodução

“Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a Nação é conhecedora, o governo da República”, declarou o senador.

Com isso, tomou posse Pascoal Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara. Poucos dias depois, o primeiro presidente militar do período que se seguiria, Castello Branco, foi eleito indiretamente.

O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco toma posse como Presidente da República e faz seu pronunciamento com a faixa presidencial / ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

 

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