O velho golpista se desculpa com o próprio advogado pela prolixidade.
10/06/2025
O interrogatório do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e réu na ação que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022, foi marcado por momentos inusitados nesta terça-feira (10), durante audiência na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao responder a uma pergunta feita pelo próprio advogado, Matheus Milanez, Heleno se alongou na resposta, o que provocou uma bronca imediata do defensor. “A pergunta é só ‘sim’ ou ‘não’, desculpa”, cortou Milanez de forma direta, diante da resposta em que o general negava ter coordenado ou orientado ações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para produção de relatórios falsos sobre a eleição de 2022.
Heleno, surpreso com a advertência, reagiu com um sorriso e um palavrão: “Porra, desculpa.” A cena provocou risos e até uma brincadeira do ministro Alexandre de Moraes: “Não fui eu, general Heleno — que fique nos anais aqui do Supremo — foi o seu advogado.” Milanez agradeceu a observação e reforçou que o cliente deveria se ater a respostas objetivas.
Outro momento de tensão ocorreu quando Heleno começou a se explicar sobre a acusação de ter conhecimento de um suposto plano golpista. Novamente, o advogado interrompeu: “O ponto é só provar se o senhor tinha conhecimento desse plano. O senhor não tinha. Participou de alguma reunião sobre esse plano?” O general respondeu “não”, e Milanez concluiu: “Pronto, então é esse o ponto. Era essa a resposta que eu precisava.”
No início da audiência, a defesa já havia informado ao ministro Moraes que o ex-ministro responderia apenas às perguntas formuladas por sua própria equipe, mantendo-se em silêncio diante dos demais questionamentos.
A audiência integra o cronograma da ação que apura a articulação de uma tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022. Na segunda-feira (9), foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cid — que é delator no caso — e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem.
O general Heleno, então capitão do Exército, foi ajudante de ordens do general Sylvio Frota, o militar linha dura que tentou dar um golpe de Estado em plena ditadura militar, no governo Geisel, porque considerava o presidente um frouxo com os comunistas. Ele e Frota saíram corridos do gabinete de Geisel, com ameaça de pegar uma cadeia. Frota acreditava que tinha os comandantes do Grandes Comandos na algibeira. Geisel descobriu a tentativa de golpe e deu um susto em todo mundo.
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